top of page
DSCN0723.JPG

SALTO DO YUCUMÃ:

A Beleza, Raridade e Imponência da Natureza Condenada pelo Progresso

No Parque Estadual do Turvo, município de Derrubadas, o Rio Uruguai deságua longitudinalmente sobre uma falha geológica com 1.800 m de extensão, gerando assim o maior salto longitudinal do mundo, o Salto do Yucumã ou Moconá, como é chamado pelos habitantes da vizinha província de Misiones – República Argentina (Figura 1).

O conceito de salto longitudinal é dado a uma queda d’água, cujo desnível, acompanha o leito do corpo hídrico por determinada extensão, projetando-se de maneira transversal ao canal natural do rio.

Figura 1.jpg

Figura 1. Vista aérea parcial do Salto do Yucumã no sentido sul/norte. Fonte: Website da prefeitura do município de Derrubadas.

Parque Estadual do Turvo

 

O Parque Estadual do Turvo é uma área de preservação permanente de mata atlântica com 17.491 hectares, subjacente ao Parque Provincial Moconá, com 999 hectares na Republica Argentina. O Salto do Yucumã representa um dos exuberantes ambientes que compõem estes parques.

A ligação entre as matas do Parque Estadual do Turvo, em conjunto com as matas do Parque Nacional do Iguaçu, Parque Provincial Moconá e outras reservas naturais argentinas, compõem um importante remanescente de mata atlântica, chamada de corredor verde (Figura 2), com aproximadamente 200 km de extensão, considerado patrimônio mundial da biosfera (UNESCO). Nesse remanescente, ocorrem espécies de plantas e animais ameaçados de extinção, como a anta e a onça pintada.

Figura 2.jpg

Figura 2. Extensão do corredor verde, considerado um dos maiores redutos da Mata Atlântica. Fonte: GeoRoteiros.

Distintos Nomes para o Salto

 

Os nativos da região batizaram o salto com dois nomes distintos: Yucumã no Brasil, e Moconá na Argentina. Os distintos nomes descrevem perfeitamente o cenário dos dois níveis do salto através do entendimento dos guaranis, com uma conotação relacionada à sua posição visual.

A expressão Yucumã significa “grande roncador”, onde a visão frontal dos saltos, a partir do lado brasileiro, ressalta a imponência visual e sonora da feição natural (Figura 3). Quando observado na parte mais alta da estrutura, através do território argentino, o Salto recebe a denominação de Moconá, que significa “o que engole tudo”. Esta denominação é referente ao fluxo turbulento das águas, gerado através da forte vazão, na qual as águas se projetam em um estreito canal (Figura 4).

Figura 4.jpg

Figura 3. Vista do salto através do território brasileiro. Fonte: Website da prefeitura municipal de Derrubadas.

Caracterização Geológica e Estrutural

 

A região das Missões no RS é caracterizada, principalmente, pelas rochas vulcânicas da Formação Serra Geral, geradas durante um dos maiores eventos vulcânicos subaéreos já registrados no planeta, entre 120 e 133 milhões de anos.

Nesta região são encontrados inúmeros afloramentos de basaltos e riolitos com estruturas típicas, como fraturas e falhas de grande porte. Tais estruturas foram adotadas como leito principal por diversos sistemas de drenagem (rios) importantes, onde as águas passam esculpindo saltos por milhares de anos. Além do Salto do Yucumã, ocorrem outros saltos longitudinais de menor porte,

Figura 3.jpg

Figura 4. Vista do salto através do território argentino. Fonte: Rodoluca (http://www.panoramio.com/user/5148983?with_photo_id=42967628)

como o Salto Roncador, no Município de Porto Vera Cruz.

No Salto do Yucumã, as águas do Rio Uruguai são canalizadas por uma grande falha geológica, com desnível entre 5 a 7 metros, seguindo por um trecho de aproximadamente 1.800 m. Nesse trecho são gerados dois leitos: um leito superior e outro inferior.

O leito superior caracteriza-se por aproximadamente 24 cachoeiras, com altura média de 12 m, porém, em épocas de cheias, elas diminuem ou até ficam submersas. Em épocas de estiagens, as cachoeiras apresentam uma vazão menor, com uma altura de aproximadamente 40 m devido ao rebaixamento do nível do canal, expondo bem a estrutura rochosa da garganta (Figura 5).

Figura 5.jpg

Figura 5. Vista do canal em época de estiagens. Nota-se a grande exposição do afloramento basáltico. Fonte: Website da prefeitura municipal de Derrubadas.

O leito inferior caracteriza-se por um canal de forte correnteza com fluxo turbulento de aproximadamente 30 m de largura média (Figura 6). A profundidade média conhecida do canal varia entre 90 e 120 m, com uma vazão média de 4.640 m³/seg.

A margem brasileira apresenta um grande lajedo de rochas basálticas fraturadas (Figura 7a) com estruturas como, por exemplo, as cavidades (“marmitas”) que propiciam a deposição de seixos, estas cavidades são formadas em eventos de cheias, devido o desgaste provocado por fragmentos de rocha/minerais, trazidos pela forte velocidade da água, que em movimentos de redemoinho modelam essa estrutura típica de encostas íngremes, como cachoeiras. (Figura 7b).

Figura 7A.jpg
Figura 7B.jpg

Figura 7. A - Vista das fraturas na rocha basáltica. B - Estruturas do tipo “marmitas”. Fonte: Georoteiros.

Figura 6.jpg

Figura 6. Vista do canal em época de chuvas na montante do salto. Notam-se as correntes de fluxo turbulento. Fonte: Website da prefeitura municipal de Derrubadas.

Conhecer para Preservar

 

O incentivo a preservação, manutenção e divulgação dos sítios geológicos do estado do Rio Grande do Sul são os principais objetivos do Projeto Georoteiros. Partindo dessa premissa, a conservação do Salto do Yucumã é um dos temas mais importantes a serem expostos através do nosso website.

A região onde se encontra a Rota do Yucumã é caracterizada por uma imensa diversidade de flora e fauna, contando inclusive com espécies raras e em extinção, como por exemplo, o sapo-de-barriga-vermelha, um anfíbio que mede cerca de 3,5 centímetros, e devido aos empreendimentos elétricos corre risco de extinção.

Esperamos que com este trabalho, o paraíso ecológico que é o Salto do Yucumã, considerado o maior salto longitudinal do mundo, siga sendo preservado, e suas belezas naturais sigam expostas podendo ser admiradas e visitadas pelas gerações futuras.

A Ameaça dos Empreendimentos Hidroelétricose

Apesar da Bacia do Rio Uruguai, na região noroeste do RS, apresentar um regime de vazão sazonal bem definido, devido ao padrão de chuvas e estiagens bastante regular, o Salto do Yucumã sofre a influência das operações do complexo de hidroelétricas da Foz do Chapecó, Itá e Machadinho, instaladas nas montantes do Rio Uruguai, a aproximadamente 160 Km deste local. Esse complexo pode alterar a característica da vazão do salto, independente da estação climática. A contribuição natural dos afluentes ocorre à jusante deste complexo de barragens através de quatro rios de grande vazão e suas respectivas sub-bacias: O Rio Chapecó, Peperi-guaçu, Várzea e Guarita. Vale ressaltar que nestas sub-bacias existe a presença de pequenas e médias hidroelétricas que também influenciam na vazão do Rio Uruguai.

Estes poucos reguladores de vazão que ainda restam já estão comprometidos, pois a construção da usina de Itapiranga, a pouco menos de 20 Km a montante do Salto do Yucumã deixariam a vazão, praticamente em sua totalidade, a mercê da ação antrópica, além de inundar uma boa parte da porção norte do parque estadual do turvo. A grande ameaça, é a construção do complexo hidroelétrico binacional de Garabí onde serão implantadas duas grandes barragens, uma a aproximadamente 200 Km do salto, na altura do município de Porto Vera Cruz, e outra a 350 Km, na altura do Município de Garruchos. As companhias elétricas e as empreiteiras envolvidas no projeto, apesar de não apresentarem um estudo concreto, afirmam que o salto será inundado em apenas 0,3%, porém, a diferença média de cotas de lâmina d’água entre o lago e o canal do salto seria de 4 metros, ou seja, o lago estaria a apenas 8 km do salto, implicando seriamente na sua vazão.

Localização:

apoiador.png
bottom of page