
SALTO DO YUCUMÃ:
A Beleza, Raridade e Imponência da Natureza Condenada pelo Progresso
No Parque Estadual do Turvo, município de Derrubadas, o Rio Uruguai deságua longitudinalmente sobre uma falha geológica com 1.800 m de extensão, gerando assim o maior salto longitudinal do mundo, o Salto do Yucumã ou Moconá, como é chamado pelos habitantes da vizinha província de Misiones – República Argentina (Figura 1).
O conceito de salto longitudinal é dado a uma queda d’água, cujo desnível, acompanha o leito do corpo hídrico por determinada extensão, projetando-se de maneira transversal ao canal natural do rio.

Figura 1. Vista aérea parcial do Salto do Yucumã no sentido sul/norte. Fonte: Website da prefeitura do município de Derrubadas.
Parque Estadual do Turvo
O Parque Estadual do Turvo é uma área de preservação permanente de mata atlântica com 17.491 hectares, subjacente ao Parque Provincial Moconá, com 999 hectares na Republica Argentina. O Salto do Yucumã representa um dos exuberantes ambientes que compõem estes parques.
A ligação entre as matas do Parque Estadual do Turvo, em conjunto com as matas do Parque Nacional do Iguaçu, Parque Provincial Moconá e outras reservas naturais argentinas, compõem um importante remanescente de mata atlântica, chamada de corredor verde (Figura 2), com aproximadamente 200 km de extensão, considerado patrimônio mundial da biosfera (UNESCO). Nesse remanescente, ocorrem espécies de plantas e animais ameaçados de extinção, como a anta e a onça pintada.

Figura 2. Extensão do corredor verde, considerado um dos maiores redutos da Mata Atlântica. Fonte: GeoRoteiros.
Distintos Nomes para o Salto
Os nativos da região batizaram o salto com dois nomes distintos: Yucumã no Brasil, e Moconá na Argentina. Os distintos nomes descrevem perfeitamente o cenário dos dois níveis do salto através do entendimento dos guaranis, com uma conotação relacionada à sua posição visual.
A expressão Yucumã significa “grande roncador”, onde a visão frontal dos saltos, a partir do lado brasileiro, ressalta a imponência visual e sonora da feição natural (Figura 3). Quando observado na parte mais alta da estrutura, através do território argentino, o Salto recebe a denominação de Moconá, que significa “o que engole tudo”. Esta denominação é referente ao fluxo turbulento das águas, gerado através da forte vazão, na qual as águas se projetam em um estreito canal (Figura 4).

Figura 3. Vista do salto através do território brasileiro. Fonte: Website da prefeitura municipal de Derrubadas.
Caracterização Geológica e Estrutural
A região das Missões no RS é caracterizada, principalmente, pelas rochas vulcânicas da Formação Serra Geral, geradas durante um dos maiores eventos vulcânicos subaéreos já registrados no planeta, entre 120 e 133 milhões de anos.
Nesta região são encontrados inúmeros afloramentos de basaltos e riolitos com estruturas típicas, como fraturas e falhas de grande porte. Tais estruturas foram adotadas como leito principal por diversos sistemas de drenagem (rios) importantes, onde as águas passam esculpindo saltos por milhares de anos. Além do Salto do Yucumã, ocorrem outros saltos longitudinais de menor porte,

Figura 4. Vista do salto através do território argentino. Fonte: Rodoluca (http://www.panoramio.com/user/5148983?with_photo_id=42967628)
como o Salto Roncador, no Município de Porto Vera Cruz.
No Salto do Yucumã, as águas do Rio Uruguai são canalizadas por uma grande falha geológica, com desnível entre 5 a 7 metros, seguindo por um trecho de aproximadamente 1.800 m. Nesse trecho são gerados dois leitos: um leito superior e outro inferior.
O leito superior caracteriza-se por aproximadamente 24 cachoeiras, com altura média de 12 m, porém, em épocas de cheias, elas diminuem ou até ficam submersas. Em épocas de estiagens, as cachoeiras apresentam uma vazão menor, com uma altura de aproximadamente 40 m devido ao rebaixamento do nível do canal, expondo bem a estrutura rochosa da garganta (Figura 5).

Figura 5. Vista do canal em época de estiagens. Nota-se a grande exposição do afloramento basáltico. Fonte: Website da prefeitura municipal de Derrubadas.
O leito inferior caracteriza-se por um canal de forte correnteza com fluxo turbulento de aproximadamente 30 m de largura média (Figura 6). A profundidade média conhecida do canal varia entre 90 e 120 m, com uma vazão média de 4.640 m³/seg.
A margem brasileira apresenta um grande lajedo de rochas basálticas fraturadas (Figura 7a) com estruturas como, por exemplo, as cavidades (“marmitas”) que propiciam a deposição de seixos, estas cavidades são formadas em eventos de cheias, devido o desgaste provocado por fragmentos de rocha/minerais, trazidos pela forte velocidade da água, que em movimentos de redemoinho modelam essa estrutura típica de encostas íngremes, como cachoeiras. (Figura 7b).

