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TORRES:

Morros Testemunhos e sua História Geológica

Torres é uma praia localizada no extremo norte do litoral do Rio Grande do Sul. Diferente de todo o resto do litoral gaúcho, a planície costeira é particularmente estreita em Torres, estando comprimida contra as escarpas do planalto da Serra Geral, cujos grandes fragmentos, as falésias, deram nome à cidade.

Nesta área, dois eventos marcantes e de grande escala da evolução geológica do estado podem ser observados. Se estudarmos com atenção o conjunto de rochas que constituem os morros existentes à beira-mar no município (Figuras 1 e 2), podemos visualizar a interação entre esses eventos. 

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Figura 1. Imagem de Satélite mostrando os morros testemunhos da Praia da Guarita e suas respectivas fotos ilustrativas. Fonte: Google Earth / GeoRoteiros.

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Figura 2. A – Imagem de satélite mostrado o Morro do Farol (Fonte: Google Earth); B – Morro do Farol; C – Base do Morro do Farol. Fonte: GeoRoteiros.

Paleodeserto Botucatu

 

O primeiro evento geológico da área está registrado nos arenitos quartzosos observados na porção inferior do Morro das Cabras e Morro do Farol.  Através das características apresentadas por essas rochas, os geólogos as interpretam como sendo os depósitos das antigas dunas de um imenso deserto; o paleodeserto Botucatu, que cobriu uma parte expressiva dos continentes sul-americano e africano entre o final do período Jurássico e o início do Cretáceo (entre 205 e 133 milhões de anos). Além de atestar que esta parte do planeta estava submetida a um clima árido, essa formação também é o testemunho da união da América do Sul e a África no Supercontinente Gondwana.

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Figura 3. A – Contato entre o derrame basáltico e o arenito do paleodeserto Botucatu; B e C – Estratificações cruzadas nos arenitos da base do Morro das Cabras. Fonte: GeoRoteiros.

Vulcanismo da Província Ígnea Continental Paraná-Etendeka

 

O segundo evento geológico que está testemunhado na praia de Torres são os grandes depósitos das rochas vulcânicas conhecidas como basalto (Figura 4).  Há cerca de 152 Ma, sobre as areias do deserto Botucatu, iniciou-se uma nova fase do cenário geológico mundial. Com a ruptura do Gondwana começou a separação entre África e América do Sul, acompanhada por um expressivo evento vulcânico que cobriu a porção centro-sul da América do Sul e o noroeste da Namíbia.

Esse tipo de vulcanismo, denominado de “vulcanismo fissural”, é diferente das explosões e derrames de lava comumente retratados. Ao invés de terem sido gerados cones vulcânicos, houve o aparecimento de diversas fissuras na terra, que permitiram ao magma subir à superfície e se derramar por cima do paleodeserto Botucatu.

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Figura 4. Detalhe das rochas basálticas no Morro das Furnas – Praia da Guarita. Fonte: GeoRoteiros.

É interessante observar que, durante esse evento, os minerais integrantes das areias do deserto ainda não haviam passado pelos processos geológicos de formação de rochas. A interação entre a lava e o sedimento úmido gerou inúmeros tipos de estruturas, denominadas de “peperitos”, que podem ser observadas em diversos pontos na praia de Torres, como no preenchimento de fraturas nos basaltos por arenitos (Figura 5a e b), e fragmentos de basalto imersos em arenitos, gerados por explosões decorrentes da interação entre a lava e material mais fluído (Figura 5c e 6).

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Figura 5. A – Diques clásticos de preenchimento; B – Diques clásticos de injeção; C – Peperitos. Fonte: GeoRoteiros.

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Figura 6. Peperitos (interação entre a areia e a lava). Fonte: GeoRoteiros.

Conhecer para Preservar

 

Os monumentos naturais preservados à beira-mar de Torres registram dois eventos geológicos de extrema importância para o esclarecimento da evolução do Rio Grande do Sul. Eles podem ajudar a esclarecer questões científicas importantes, como se o Paleodeserto Botucatu era inteiramente seco, ou se continha alguns depósitos úmidos entre as dunas, que teriam sido responsáveis pela geração dos peperitos.

A área é reconhecida como um complexo turístico regional, inserida em uma unidade de conservação ambiental de aproximadamente 13 hectares. Este Geossítio apresenta uma boa estrutura para receber turistas, contando com estacionamento, trilhas ecológicas, banho de mar e painéis informativos ilustrando aspectos geológicos e biológicos local.

Esperamos que através desse texto, o leitor não só visite o litoral norte, mas também consiga ver e entender os indícios da evolução geológica registrada nas rochas de Torres, que mostram que a paisagem do RS, na época de

formação dessas rochas e estruturas, era radicalmente diferente da atual, possuindo um deserto e posteriormente um ambiente vulcânico.

Localização:

Leitura Recomendada

  • ELIAS, A.R.D. 1999. Estratigrafia de Sequencias e Proveniência das rochas Eopermianas da Bacia do Paraná na região centro-oeste do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. São Leopoldo, RS, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, dissertação de mestrado, 2 v., 182 p.

  • MILANI, E.J. 1997. Evolução Tectôno-estratigráfica da Bacia do Paraná e seu Relacionamento com a Geodinâmica Fanerozóica do Gondwana Sul-Ocidental. Porto Alegre – RS. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, 2 v., 255 p.

  • PETRY, K.; ALMEIDA, D. del P. M.; ZERFASS, H. 2005. O Vulcanismo Serra Geral em Torres, Rio Grande do Sul, Brasil: empilhamento estratigráfico local e feições de interação vulcano-sedimentar. Gaea, 1(1): 34-45

  • SCHERER, C.M.S. 1998. Análise estratigráfica e litofaciológica da Formação Botucatu (Neocomiano) no Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS. Tese de Doutorado. Instituto de Geociências – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 208 p.

  • WILDNER, W.; RAMGRAB, G.E.; LOPES R. da C.; IGLESIAS, C.M.F. 2008. Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Sul, escala 1:750.000. Porto Alegre : CPRM.

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